O Sol, os planetas e o ... Principezinho
João Fernandes, Departamento de Matemática da FCTUC, Observatório
Geofísico e Astronómico da UC e Centro de Geofísica da UC
No início do séc. XVII o ambiente astronómico fervilhava em discussões entre os diferentes modelos do Universo: a Terra em volta do Sol ou o Sol em volta da Terra. Ou até, nem uma coisa nem outra. Nomes como Copérnico, Brahe, Clávio, Kepler e Galileu vão ser actores na contenda. Quem tem razão? Quem tem a prova observacional do que defende? Hoje não há dúvidas de quem anda à volta de quem. Mas a discussão nesses idos tempos foi muito mais interessante do que à primeira vista se pode imaginar.
Quase 400 anos depois, em 1995, dois astrónomos suíços, Mayor & Queloz, apresentam num congresso, em Florença (onde tive a felicidade de estar), a primeira evidência observacional da existência de um planeta extrasolar em torno de uma estrela parecida com o Sol. A estrela chama-se 51 Pegasi e está a quase 50 anos-luz da Terra. O curioso é que estes astrónomos detectaram a presença do planeta, não porque o tivessem filmado ou fotografado, mas porque viram o seu efeito na estrela: a estrela parecia estar a movimentar-se pelo facto de ter um planeta a orbitá-la. Mas seria mesmo assim? Não podia esse movimento da estrela ser aparente e o que os astrónomos observaram ser causado por algo que não a órbita do suposto planeta? As perguntas foram muitas. Mas os suíços estavam correctos. E hoje sabemos da existência de mais de 1000 planetas extra-solares.
Sabemos há vários séculos que o Sol apresenta manchas escuras à sua superfície. Porém o número destas manchas não é constante no tempo. Desde o séc. XIX que se sabe que o número varia ciclicamente com uma periodicidade de aproximadamente 11 anos. As causas desde ciclo solar não são ainda bem conhecidas. Em 2012, uma equipa internacional envolvendo cientistas espanhóis, suíços e americanos, propuseram um modelo físico para sustentar que o movimento dos planetas em torno do Sol pode ser a causa deste ciclo. Como podem os minúsculos planetas terem tal impacto no gigante Sol? Este trabalho está a levantar fortes críticas e há quem tenha explicações alternativas.
O que é que estes três casos aqui reportados têm em comum: a Ciência que evolui pela confrontação entre diferentes modelos e a sua comparação com as observações. Até porque, um modelo pode reproduzir bem as observações e ... estar errado. Esta aparente contradição é a motivação para a nossa conversa. Já agora, o que é que o Principezinho (sim, o mesmo de Antoine de Saint-Exupéry) tem a ver com isto? Alguma coisa. Apareça para confirmar.
Esta sessão, que se realiza no âmbito do Programa Doutoral em História das Ciências e Educação Científica, consiste num seminário da disciplina de Discursos e Práticas Científicas, aberto à comunidade universitária.
Geofísico e Astronómico da UC e Centro de Geofísica da UC
No início do séc. XVII o ambiente astronómico fervilhava em discussões entre os diferentes modelos do Universo: a Terra em volta do Sol ou o Sol em volta da Terra. Ou até, nem uma coisa nem outra. Nomes como Copérnico, Brahe, Clávio, Kepler e Galileu vão ser actores na contenda. Quem tem razão? Quem tem a prova observacional do que defende? Hoje não há dúvidas de quem anda à volta de quem. Mas a discussão nesses idos tempos foi muito mais interessante do que à primeira vista se pode imaginar.
Quase 400 anos depois, em 1995, dois astrónomos suíços, Mayor & Queloz, apresentam num congresso, em Florença (onde tive a felicidade de estar), a primeira evidência observacional da existência de um planeta extrasolar em torno de uma estrela parecida com o Sol. A estrela chama-se 51 Pegasi e está a quase 50 anos-luz da Terra. O curioso é que estes astrónomos detectaram a presença do planeta, não porque o tivessem filmado ou fotografado, mas porque viram o seu efeito na estrela: a estrela parecia estar a movimentar-se pelo facto de ter um planeta a orbitá-la. Mas seria mesmo assim? Não podia esse movimento da estrela ser aparente e o que os astrónomos observaram ser causado por algo que não a órbita do suposto planeta? As perguntas foram muitas. Mas os suíços estavam correctos. E hoje sabemos da existência de mais de 1000 planetas extra-solares.
Sabemos há vários séculos que o Sol apresenta manchas escuras à sua superfície. Porém o número destas manchas não é constante no tempo. Desde o séc. XIX que se sabe que o número varia ciclicamente com uma periodicidade de aproximadamente 11 anos. As causas desde ciclo solar não são ainda bem conhecidas. Em 2012, uma equipa internacional envolvendo cientistas espanhóis, suíços e americanos, propuseram um modelo físico para sustentar que o movimento dos planetas em torno do Sol pode ser a causa deste ciclo. Como podem os minúsculos planetas terem tal impacto no gigante Sol? Este trabalho está a levantar fortes críticas e há quem tenha explicações alternativas.
O que é que estes três casos aqui reportados têm em comum: a Ciência que evolui pela confrontação entre diferentes modelos e a sua comparação com as observações. Até porque, um modelo pode reproduzir bem as observações e ... estar errado. Esta aparente contradição é a motivação para a nossa conversa. Já agora, o que é que o Principezinho (sim, o mesmo de Antoine de Saint-Exupéry) tem a ver com isto? Alguma coisa. Apareça para confirmar.
Esta sessão, que se realiza no âmbito do Programa Doutoral em História das Ciências e Educação Científica, consiste num seminário da disciplina de Discursos e Práticas Científicas, aberto à comunidade universitária.